Então amanhece e você acorda. Tem mais um dia de café da manhã apressado e trânsito engarrafado, de fila do banco no almoço e reunião cheia de pautas no trabalho. São cobranças daqui e deveres dali com as pessoas que dependem de você.
E, no meio disso tudo, lê com um gosto amargo na boca as notícias de tragédias que há anos costumam se repetir:
“Barco com mais de 300 imigrantes naufraga no Mediterrâneo”, “Guarda Costeira italiana resgata 24 corpos de imigrantes após naufrágio”, “Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória”.
Enquanto o mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, você enfrenta seus questionamentos internos com a amargura de suas dúvidas salgadas.
Como viver sem ter vergonha de ser feliz num mundo que afoga crianças refugiadas de guerras? Que dor é essa que nos revolta e sufoca por dentro? Até quando a vida será uma luta de autodevoração sem fim? Quem são as vítimas? Onde acharemos os culpados?
Parece que vivemos em um oceano de medo, lamúrias e desilusões, e estamos à deriva. A humanidade está naufragando nela mesma. Está tudo estranho. Não tem mais graça viver em meio a tantos conflito entre raças. Qual a explicação para matar o outro em nome de um Deus? Quantas guerras mais teremos que suportar por disputas de terra, poder e dinheiro?
E quem somos nós para julgar os pais desesperados que colocam crianças em alto-mar sem destino certo, ou aqueles que não têm condições de receber os refugiados?
Prestar devida atenção aos questionamentos em si não é fácil. Isso nos lembra uma frase famosa de Ernest Hemingway que muita gente se incomoda ao lê-la: “Felicidade em pessoas inteligentes é a coisa mais rara que conheço”.
Acredito, no entanto, que Hemingway não se referia apenas à questão de ter ou não maior Q.I. Inteligente é quem tem consciência da injustiça no mundo, de quanta gente é infeliz; é a maior sensibilidade do indivíduo em relação a tanta desumanidade e desigualdade; seria como ver — e enxergar — um idoso cansado puxar com esforço sofrido seu carrinho de sucata sob uma chuva fina enquanto você vai de carro para o trabalho. E também olhar o carro da frente jogar uma garrafa de água vazia pela janela e poluir o chão, e sentir-se indignado. Com tudo isso fica realmente difícil encontrar a felicidade plena.
É importante compartilhar imagens que mostram nossa indignação pelas redes sociais. Chega a ser insuportável levar uma vida normal no escritório, no consultório ou na faculdade, e ainda saber que em muitos lugares pescoços são explodidos e crianças são enterradas vivas. Pessoas se colocam em botes, desesperadamente, e se atiram ao mar para fugirem de uma guerra civil.
Mas o imediatismo da internet, por outro lado, parece tornar algumas pessoas menos pensantes. Ou por preguiça de ler e se informar a respeito do assunto, ou por necessidade de ser o primeiro a comentar sobre uma notícia recente, nos deparamos com todo tipo de desinformação ou comentários grosseiros e preconceituosos que em nada contribuem para a nossa vida.
Talvez, o que nos falta é observar a dor e o sofrimento do outro como “e se fosse comigo”. É fácil criar um julgamento quando não vivemos tal situação, por isso, precisamos olhar com mais afetividade e acolhimento antes de lançarmos nossas certezas sobre o outro.
Falando em Hemingway, lembro-me de seu livro “O Velho e o Mar”. Nele, o velho pescador, que sentia-se excluído em sua velhice solitária, lançou-se sozinho ao mar para provar que podia pescar um peixe grande. Na solidão do mar, encontrou-se a si mesmo e aprendeu que o sofrimento faz parte da vida, assim como as lutas e as batalhas físicas são necessárias para o nosso crescimento. Ao pescar seu espadarte gigante, descobriu que gostava dele, e o admirava por sua força; mas o velho tinha que ser mais forte e vencê-lo.
Porém, vencer não significa ser vitorioso, pois a vida nos traz tubarões em forma de inveja, ganância e mentira que nos levam toda nossa glória. É que o ser humano é contraditório; ele mata para ter paz, faz guerra para ser livre e grita para ter silêncio. E, depois da vitória, percebe que glória e riqueza são passageiras.
Por isso, o velho Santiago nos ensinou que amor, coragem e compaixão, valores cada vez mais difíceis de serem encontrados em sua essência e vontade, são os sentimentos que garantem a nossa sobrevivência diante uma tragédia.
Ah… Hoje eu quero andar de pés descalços pela praia da minha alma. Hoje, pelo menos hoje, deixar essa tristeza ser um oceano de azuis cerúleo e ultramar… preciso desaguar. Atravessar o abismo de tantas perguntas sem respostas; ser o próprio céu e mergulhar em meu mar.
“Barco com mais de 300 imigrantes naufraga no Mediterrâneo”, “Guarda Costeira italiana resgata 24 corpos de imigrantes após naufrágio”, “Foto chocante de menino morto revela crueldade de crise migratória”.
Enquanto o mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, você enfrenta seus questionamentos internos com a amargura de suas dúvidas salgadas.
Como viver sem ter vergonha de ser feliz num mundo que afoga crianças refugiadas de guerras? Que dor é essa que nos revolta e sufoca por dentro? Até quando a vida será uma luta de autodevoração sem fim? Quem são as vítimas? Onde acharemos os culpados?
Parece que vivemos em um oceano de medo, lamúrias e desilusões, e estamos à deriva. A humanidade está naufragando nela mesma. Está tudo estranho. Não tem mais graça viver em meio a tantos conflito entre raças. Qual a explicação para matar o outro em nome de um Deus? Quantas guerras mais teremos que suportar por disputas de terra, poder e dinheiro?
E quem somos nós para julgar os pais desesperados que colocam crianças em alto-mar sem destino certo, ou aqueles que não têm condições de receber os refugiados?
Prestar devida atenção aos questionamentos em si não é fácil. Isso nos lembra uma frase famosa de Ernest Hemingway que muita gente se incomoda ao lê-la: “Felicidade em pessoas inteligentes é a coisa mais rara que conheço”.
Acredito, no entanto, que Hemingway não se referia apenas à questão de ter ou não maior Q.I. Inteligente é quem tem consciência da injustiça no mundo, de quanta gente é infeliz; é a maior sensibilidade do indivíduo em relação a tanta desumanidade e desigualdade; seria como ver — e enxergar — um idoso cansado puxar com esforço sofrido seu carrinho de sucata sob uma chuva fina enquanto você vai de carro para o trabalho. E também olhar o carro da frente jogar uma garrafa de água vazia pela janela e poluir o chão, e sentir-se indignado. Com tudo isso fica realmente difícil encontrar a felicidade plena.
É importante compartilhar imagens que mostram nossa indignação pelas redes sociais. Chega a ser insuportável levar uma vida normal no escritório, no consultório ou na faculdade, e ainda saber que em muitos lugares pescoços são explodidos e crianças são enterradas vivas. Pessoas se colocam em botes, desesperadamente, e se atiram ao mar para fugirem de uma guerra civil.
Mas o imediatismo da internet, por outro lado, parece tornar algumas pessoas menos pensantes. Ou por preguiça de ler e se informar a respeito do assunto, ou por necessidade de ser o primeiro a comentar sobre uma notícia recente, nos deparamos com todo tipo de desinformação ou comentários grosseiros e preconceituosos que em nada contribuem para a nossa vida.
Talvez, o que nos falta é observar a dor e o sofrimento do outro como “e se fosse comigo”. É fácil criar um julgamento quando não vivemos tal situação, por isso, precisamos olhar com mais afetividade e acolhimento antes de lançarmos nossas certezas sobre o outro.
Falando em Hemingway, lembro-me de seu livro “O Velho e o Mar”. Nele, o velho pescador, que sentia-se excluído em sua velhice solitária, lançou-se sozinho ao mar para provar que podia pescar um peixe grande. Na solidão do mar, encontrou-se a si mesmo e aprendeu que o sofrimento faz parte da vida, assim como as lutas e as batalhas físicas são necessárias para o nosso crescimento. Ao pescar seu espadarte gigante, descobriu que gostava dele, e o admirava por sua força; mas o velho tinha que ser mais forte e vencê-lo.
Porém, vencer não significa ser vitorioso, pois a vida nos traz tubarões em forma de inveja, ganância e mentira que nos levam toda nossa glória. É que o ser humano é contraditório; ele mata para ter paz, faz guerra para ser livre e grita para ter silêncio. E, depois da vitória, percebe que glória e riqueza são passageiras.
Por isso, o velho Santiago nos ensinou que amor, coragem e compaixão, valores cada vez mais difíceis de serem encontrados em sua essência e vontade, são os sentimentos que garantem a nossa sobrevivência diante uma tragédia.
Ah… Hoje eu quero andar de pés descalços pela praia da minha alma. Hoje, pelo menos hoje, deixar essa tristeza ser um oceano de azuis cerúleo e ultramar… preciso desaguar. Atravessar o abismo de tantas perguntas sem respostas; ser o próprio céu e mergulhar em meu mar.
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