Também tenho acompanhado vários casos de ciúme patológico no
consultório, e me chama a atenção o fato de as pessoas deixarem para procurar
ajuda apenas quando são alertadas por um profissional da área da saúde,
geralmente psicólogo ou psiquiatra.
Aqueles que sofrem com o ciúme do parceiro
acham que esse comportamento faz parte do jeito de ser da pessoa, incomodam-se
com as cobranças e controle a que são submetidos, porém não fazem ideia de que
isso possa ser sintoma de uma doença, e como tal, deve ser tratado.
O que é o ciúme?
Basicamente, ciúme é o medo de perder alguém amado para uma
terceira pessoa. Segundo Ballone, o ciúme normal é transitório e baseado em
fatos. O maior desejo é preservar o relacionamento. Algumas pessoas o encaram
como prova de amor, zelo ou valorização do parceiro. Outros o consideram uma
prova de insegurança e baixa autoestima.
Ciúme doentio
Já no ciúme patológico há o desejo inconsciente da ameaça de
um rival, assim como o desejo obsessivo de controle total sobre os sentimentos
e comportamentos do outro. Caracteriza-se por se exagerado, sem motivo aparente
que o provoque, deixando o ciumento absolutamente inseguro e transformando-o
num tremendo controlador, cerceador da liberdade do outro, podador de qualquer
atividade que o parceiro queira fazer sem que ele esteja presente.
A maneira errada de lidar com o ciúme
Quem sofre os "ataques" do parceiro alimenta-o sem
saber à medida que concorda em submeter-se ao que o outro pede. Por exemplo:
se, ao ser questionado sobre quem lhe enviou e-mails, mesmo no trabalho, ele
responder, der satisfações, o outro se sentirá no direito de fazê-lo sempre,
agindo dessa forma cada vez mais incisivamente.
As brigas tornam-se frequentes e o clima de tensão impera na
relação, já que qualquer coisa é motivo para reacender o ciúme. Porém, há
momentos de total tranquilidade intercalados a estes - geralmente quando estão
juntos, fazendo algo que distraia a atenção do ciumento - o que deixa a
"vítima" do ciúme confusa, tirando a vontade de abandonar a relação
que muitas vezes é tentadora.
Mas afinal quem é a vítima aqui? Aquele que sofre com as
cobranças e vive numa verdadeira prisão ao lado de alguém possessivo e
controlador ou este, que vive em constante tensão e desconfiança, perdendo por
completo sua tranquilidade perante a vida em função de algo que o consome?
Diria que ambos são vítimas e necessitam cuidados, cada um em seu contexto.
Aquele que convive com o ciumento deve aprender a colocar limites, não
alimentando a dinâmica doentia do parceiro, e não deixando de fazer suas coisas
ou falar com seus amigos só porque o outro quer. Ele acaba cedendo às pressões
para evitar brigas, o que lhe parece mais fácil, mas o resultado é
catastrófico, pois quando menos imaginar perceberá o quanto está agindo em
função do outro e se deixando de lado, submetendo-se, anulando-se por completo.
E o pior: nada satisfaz ao parceiro, que vai exigir sempre mais, pois, como já
foi dito, a sensação da dúvida permanece.
A maneira certa de lidar com o ciúme
Em sua terapia procure entender porque se deixa dominar por
alguém que lhe cerceia por completo, aceitando abrir mão de seu direito e liberdade
de relacionar-se com as pessoas e com o mundo. Já o ciumento deve procurar
ajuda psicoterapêutica e medicamentosa, pois o tratamento abrange tanto o lado
emocional quanto o físico. É uma doença tratável à base de antidepressivos, que
aliviarão e muito os sintomas, devolvendo à pessoa a liberdade de viver. A
psicoterapia paralela à medicação é fundamental para que se trabalhem questões
profundas ligadas ao aparecimento do ciúme, geralmente envolvendo dinâmicas
familiares complicadas, insegurança e autoestima baixa, entre outras. Nunca
tome medicação por conta própria, sempre consulte o médico antes de optar pelo
tratamento medicamentoso.
Uma grande dificuldade que encontramos ao lidar com essas
pessoas é que em muitos casos tal comportamento foi aprendido com o pai ou a
mãe, também ciumentos, passando a falsa ideia de que esse jeito de funcionar é
o normal. Quando você vive em uma família cujas características principais são
o controle, o cuidado excessivo, o zelo e preocupação com os filhos, cresce
achando que assim deve ser, pois esse foi o modelo aprendido.
Porém, ao deparar-se com um(a) namorado(a) que não viveu
essa dinâmica, o ciúme começa a se manifestar, denunciando a presença da
doença. Como convencê-lo a se tratar se a própria família não considera seu
comportamento "fora do padrão", muitas vezes boicotando a
continuidade do tratamento? Aqui entra a importância de uma terapia familiar
acontecendo paralelamente ao tratamento individual, para que cada um possa
reconhecer sua parcela de responsabilidade no problema e juntos, se comprometam
a resolvê-lo.
É preciso reaprender a relacionar-se sem o controle e
libertar-se da angústia da dúvida para experimentar o prazer de um
relacionamento "saudável", onde ambos possam compartilhar momentos de
tranquilidade, sem ter que abrir mão de sua individualidade ao mesmo tempo.
Isso é possível, basta querer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário