Em 20 de janeiro último a Agência Nacional de Vigilância Sanitária divulgou lista dos medicamentos de uso controlado mais vendidos no país de 2007 a 2010. Segundo informações fornecidas por 41032 farmácias de todo o país (58,2% do total de estabelecimentos cadastrados), os medicamentos controlados mais consumidos pela população brasileira foram:
Clonazepan – 10,6 milhões de caixas vendidas em 2010;
Bromazepan – 4,6 milhões;
Alprazolan – 4,4 milhões.
Essas medicações são chamadas de “ansiolíticos” ou ”calmantes” devido à sua principal indicação – controle da ansiedade – e “benzodiazepínicos” devido à conformação de suas moléculas. Além de diminuir os sintomas de ansiedade, promovem relaxamento muscular e induzem o sono. O Clonazepan também é indicado para o controle de crises convulsivas e, assim como o Alprazolan, é eficaz no controle dos Ataques de Pânico.
O primeiro benzodiazepínico lançado no mercado foi o clordiazepóxido, que começou a ser comercializado em 1960. Além da elevada eficácia terapêutica, produzia muito menos efeitos colaterais que os outros medicamentos usados na época para diminuir a ansiedade e induzir sono (barbitúricos, antipsicóticos). A indústria farmacêutica desenvolveu novas moléculas com efeitos semelhantes e o médicos passaram a prescrevê-los em larga escala.
Posteriormente surgiram os primeiros relatos de uso abusivo, e o acompanhamento de usuários crônicos permitiu saber que o o uso prolongado poderia levar a tolerância (necessidade de doses progressivamente maiores para obter o mesmo efeito), dependência e síndrome de abstinência quando da retirada brusca.
A forma como esses medicamentos eram encarados pelos profissionais de saúde e pela sociedade como um todo foi se modificando, sendo realizados controles mais rígidos conforme se conhecia os efeitos colaterais do uso a longo prazo.
Hoje já se sabe que os benzodiazepínicos podem interferir em processos de aprendizado e memória, sendo que o uso abusivo e/ou prolongado pode levar a prejuízo nas funções cognitivas. Devido ao relaxamento muscular que causam, podem piorar o quadro de pessoas que sofrem de apnéia obstrutiva do sono e devem ser usados com cuidado em pessoas com problemas respiratórios (o trabalho da musculatura da cavidade oral e da caixa torácica são muito importantes para a respiração).
Os benzodiazepínicos são metabolizados no fígado e eliminados pelos rins (com exceção do lorazepan, que é eliminado via renal sem precisar do metabolismo hepático).Têm tolerância cruzada com o álcool, ou seja, quando o paciente que é alcoólatra deixa de beber, pode-se medicá-lo com um benzodiazepínico para evitar uma síndrome de abstinência. Caso o fígado do paciente já tenha sido muito danificado pelo uso de álcool, o lorazepan pode ser usado. Tomar juntos, nem pensar. Álcool e benzodiazepínicos diminuem a consciência, as funções cerebrais, potencializam seus efeitos causando um belo prejuízo.
Ainda que sejam mais seguros que os demais medicamentos controlados podem causar graves danos ao organismo quando em grande quantidade e/ou combinados com outras substâncias em tentativas de suicídio, por exemplo.
Diante dos riscos do uso prolongado, a melhor prática é prescrevê-los apenas quando absolutamente necessário, na menor dose possível, pelo menor período de tempo. Suas embalagens levam a “faixa preta” e, para comprá-los é preciso o “chequinho” – receituário azul.
Antes de começar o uso de benzodiazepíncos é muito importante ter noção da necessidade do paciente. Ansiedade faz parte da vida e é necessária para que o indivíduo procure sempre melhorar.
Em nosso mundo agitado e apressado as pessoas às vezes começam a tomar ansiolíticos para tolerar a agitação e psicoestimulantes para vencer o cansaço. Há quem tome o comprimido antes mesmo de sair de casa pela manhã, para dar conta da ansiedade do dia-a-dia. É assim que começa a dependência.
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