


Superação — O gênio foi devastado por uma depressão. Kitty escreve que Hawking não abusou de bebida alcóolica por causa disso. "Me senti como um personagem de uma tragédia. Comecei a escutar Wagner", disse o físico. O gosto pelo compositor alemão continuou e a tristeza sumiu à medida que sua carreira em Cambridge prosperou. Em1979, passou a ocupar a cadeira de professor lucasiano da instituição, cátedra ocupada por ninguém menos que Isaac Newton. Em 2007, Hawking participou de um voo antigravidade em um Boeing 727. A experiência dá aos passageiros a sensação de gravidade zero, como se estivessem no espaço. O físico adorou o voo. "A humanidade não deveria ter todos os seus ovos em apenas um cesto ou um planeta", disse em entrevista a uma rede de televisão logo após o voo.
Em entrevista ao site de VEJA, Kitty disse que a ideia era transformar a primeira biografia em um e-book. Contudo, segundo a escritora, havia tanto material novo que a nova biografia vai além de ser um livro revisado. "Ele canibaliza a versão antiga, mas a linguagem foi atualizada", garante.

A escritora revela que conversou com Hawking sobre a possibilidade de incluir o que é publicamente conhecido sobre o assunto, como rumores de abuso por parte de Elaine, mas decidiu se resguardar. "Não sou uma jornalista de fofocas e não procurei ser uma repórter investigativa sobre o assunto", justifica.
Mas a escritora conseguiu o que queria quando se propôs a relatar a vida do gênio. "Eu queria que ele gostasse do livro, que o aprovasse". Tudo indica que Kitty conseguiu. "A nova biografia é o único livro sem a autoria de Hawking que ele exibe em sua página pessoal", diz, sem disfarçar o orgulho.
Hawking religioso? — De controverso, Kitty trata no livro apenas aquilo que considera ser uma cruzada pessoal: a de impedir que Hawking seja lembrado como um ateu. "Ele passa uma imagem de que não pensou muito bem sobre o assunto", diz, com indignação. "Todo o resto das coisas que faz, ele pensa muito bem", compara a escritora, católica. "Acredito em Deus e não gosto das afirmações ateias dele."
A escritora confessa que nunca discutiu o assunto religioso com Hawking. "Ele demora tanto tempo para responder a uma pergunta que aprendi a priorizar os assuntos mais importantes", explica. Por causa de sua doença, a esclerose lateral amiotrófica, Hawking usa um computador especial para ditar suas respostas, o que pode levar vários minutos. "No fim, respondi as questões que realmente interessavam a mim." Provavelmente, Kitty deixou de tratar sobre Deus com Hawking por temer que o físico a dissesse diretamente aquilo que já foi objeto de tanta reflexão que virou livro.
Em O Grande Projeto (Editora Nova Fronteira), Hawking é contundente: "Não precisamos de Deus para explicar a origem do universo." Kitty, contudo, protesta. "Acredito firmemente que ele não mostrou no livro que Deus não existe. Seria lastimável se parte do legado dele influenciasse jovens a se tornarem ateus."
Legado — Impossível dizer como Hawking será lembrado após a sua morte. Contudo, o físico é considerado o mais popular desde Einstein. Já participou de episódios no seriado de ficçãoJornadas nas Estrelas, foi personagem do desenho americano Os Simpsons e recentemente fez uma aparição no seriado The Big Bang Theory.
Muitos concordam que a maior contribuição de Hawking à física foi a descoberta de que os buracos negros podem diminuir de tamanho, emitindo uma radiação, a radiação Hawking. "Ele gostaria de ser lembrado pela ciência que fez e não pela deficiência que tem", diz Kitty. "Não sei se isso vai acontecer - acho que ele será lembrado pela figura heroica que sempre foi."
Desde 1977, VEJA acompanha as descobertas de Stephen Hawking e suas contribuições para física. O cientista já foi capa em uma edição de 1988 e em 2009 apostou 100 dólares que o Grande Colisor de Hadrons, o maior acelerador de partículas do mundo, não encontraria o bóson de Higgs. Por enquanto, o gênio está ganhando.
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