Astrid Fontenelle completa hoje 51 anos. A apresentadora do "Chegadas e partidas", no GNT, admite que nunca quis tanto envelhecer mais um ano e pretende celebrar ao lado da família e amigos mais íntimos. Depois de descobrir, há cerca de dois meses, que tem lúpus, uma doença autoimune, ela crê que a nova idade vai representar também uma virada astral.
Desde o diagnóstico, Astrid precisou modificar a sua rotina. Parou de dirigir e tem sempre uma babá por perto para ajudar a cuidar do filho, Gabriel, de 3 anos. O garoto, muito esperto, já entendeu que a "mamãe está dodói" e avisa às visitas que é importante deixar, na entrada da casa, o sapato usado para ir à rua, assim como limpar bem as mãos.
O GLOBO: Como você pretende comemorar o seu aniversário?
ASTRID FONTENELLE:
A coisa que eu mais quero é virar este ano numerologicamente e astralmente. Quero reunir os amigos que foram importantes no período em que passei internada. Agreguei os mais divertidos e falantes ao meu lado porque não quero ninguém me chamando de coitadinha. Estou na guerra e tenho que ir para cima com espírito de vencedora. No hospital, eu me maquiava todos os dias. Nunca deixei de passar rímel, blush e corretivo. Isso só mostra que eu estava querendo viver.
Você tem um filho de 3 anos. Como lida com isso, diante de uma doença autoimune?
ASTRID:
Você não pensaria nisso? E se eu morrer? No começo, ele me viu tomar remédio pra cacete, até me ajudava. Quando a gente reza para Nossa Senhora, ele pede um sol, um arco-íris, saúde pra mamãe... Como eu não tenho força para ele, agora tenho babá também aos domingos. Eu ainda não sei como será o dia de amanhã. Não posso dirigir, nem pegá-lo no colo. Até porque eu estou com 51 quilos e ele, com 24. Mas, no domingo passado, já dispensei a menina para almoçar na casa dela e fiquei sozinha com ele. Gabriel também me ajuda.
Como descobriu a doença?
ASTRID:
Eu desconfiava de que estava mal. Eu me sentia inchada, minha mão não fechava. Estava de férias em Salvador (Astrid também tem casa lá, onde mora o marido, Fausto Franco, produtor executivo do Chiclete com Banana) e, no fim de janeiro, voltei para São Paulo para começar a gravar o programa. Fui à médica e, quando ela viu meus exames, disse: "Vá para o (Hospital Albert) Einstein agora. O seu rim está acabando". E assim eu fiz. O meu rim quase parou. Por um dia, eu me livrei da diálise. Na minha conta, o lúpus estava me atacando há nove meses.
E como tem sido o tratamento?
ASTRID:
Estou na fase de estabilizar a doença. O lúpus tem órgãos preferenciais, como rim, coração e pulmão. Tem o que afeta a parte neurológica, a pele, as articulações. O meu afetou o rim, se apegou, prato sofisticado na França... No pulmão, a primeira porrada de cortisona já matou. Agora, estou sentido a articulação.
Teve medo? Chorou?
ASTRID:
Claro! O meu tratamento não é brincadeira. Quando eu decidi contar no Twitter, era de madrugada, eu estava no hospital e ia fazer uma biópsia do rim. Fausto estava dormindo porque acompanhante marido dorme, né? Eu estava com medo, queria rezar. Mas, nos dois primeiros dias no hospital, eu não lembrava como era a Ave Maria, de tão louca que eu fiquei. Fui procurar no Google a oração. E olha que eu rezo todas as noites, desde que o Gabriel nasceu. No Twitter, eu disse que precisava de uma corrente de amor e fé.
E a resposta foi imediata?
ASTRID:
O quê? Foi uma enxurrada de gente. Isso tornou as coisas mais fáceis. E já me sinto útil para quem também passa por isso. Mas é claro que também tenho momentos de tristeza, quando algo me dói demais. Ontem, havia quatro pedaços do corpo doendo. Chorei um pouco, mas sei que não é legal. Paro e vou rezar, pedindo força e calma. É claro que vai passar. Poxa, eu tô até trabalhando!
O novo ano do programa começa com cenas suas reencontrando Gabriel no aeroporto. Como foi?
ASTRID:
Fiquei internada por 12 dias. Tinha que me preparar para recebê-lo. Cheguei a tomar 12 remédios pela manhã. Tive umas alergias que não estavam previstas. Era para ficar gorda e fiquei magra. Em uma semana, perdi quatro quilos. Fiquei diabética de tanto remédio, o pâncreas não aguentou. Até que um dia eu me olhei no espelho e me achei bem. Liguei para a Mariana (Koehler, diretora) e disse: "A gente se acaba vendo aquelas mães esperando os filhos no aeroporto. Eu sou a mãe que vai viver isso hoje. E se a gente gravasse?". Mas nunca quis usar a minha história para fazer um dramalhão. No programa, apareço olhando o relógio, andando no saguão. O único áudio é quando vejo o Gabriel e falo: "Meu filho, eu te amo".
O fato de levar o que vem enfrentando para a atração a aproxima mais do público?
ASTRID:
Acho que fiz no limite para me tornar humana. Eu jamais exploraria isso, estaria expondo o meu filho, que vai meter no Google e ver que a mãe dele vendeu a história dela de dor. O sucesso do programa é que eu não chamo mais atenção do que as histórias apresentadas.
E sempre são histórias que fazem chorar quem assiste. Como tem estrutura emocional para isso?
ASTRID:
Eu já vivi muita coisa, a maturidade me acalma. Esse programa me dá conhecimento de vida. Eu posso discordar do maluco que ficou 20 anos no Japão sem ver a filha, mas eu respeito.
Até porque as pessoas deixam você entrar na vida delas por alguns minutos...
ASTRID:
Estão loucas para deixar! Até agora, só ouvi "não" de casal de amantes e de um gay que não queria que o pai soubesse. Mas a história mais emblemática foi a de uma mãe que ia rever o filho depois de oito anos. Quando ele chegou, saiu dando porrada na equipe, repetindo "Só quero ficar com a minha mãe". Mas eu o acalmei, e ele assinou a autorização para a gravação. Até que um dia, eu falando do programa no Twitter, alguém escreveu: "Duro é a mãe esperar um filho durante anos e morrer logo depois". A pessoa se referia àquela mulher. Eles ficaram juntos por dois meses e, depois, ela morreu num incêndio. Eu fiquei louca. Acredito que a gente recebe sinais. Como eu ia entender que aquele menino gritava porque aquela seria a última vez que eles estavam se vendo?
Qual é o ponto comum entre tantas histórias?
ASTRID:
A saudade. A distância faz essas pessoas se perceberem. O cotidiano mata o seu casamento, o nosso relacionamento no trabalho... A gente cai no banal. O cotidiano nos deixa mal-educados. A intimidade é uma droga. Eu acredito nisso.
O seu casamento funciona porque é à distância?
ASTRID:
Talvez. Fausto fica em Salvador e eu, em São Paulo. E já estamos juntos há mais de três anos... Eu sou péssima de data. Eu me guio pela idade do Gabriel, porque eles chegaram ao mesmo tempo na minha vida. Eu tinha saído de um outro casamento, quando Fausto me convidou para o show do Chiclete. Pra ser sincera, nem de micareta eu gosto. Mas acabei indo. No dia seguinte, ele me chamou para almoçar. E, no outro, já beijei. Mas falei que não ia rolar, que o meu foco era a adoção. Ele perguntou se podia fazer parte dessa história e me sugeriu ir à Bahia e entrar no cadastro nacional de adoção.
Assim, Gabriel também ganhou um pai.
ASTRID:
A figura masculina presente é bacana. Tecnicamente, para ensinar a fazer xixi em pé (risos), mas também como referência. Eu conheço meninos criados por mulheres que são meio mimadinhos. Mas eu o adotei sozinha. Eles é que se escolheram e se tratam dessa forma. Eu não os apresentei como papai e filhinho. Gabriel começou a chamá-lo de daddy, e Fausto fica todo emocionado.
Como foi a chegada de Gabriel na sua vida?
ASTRID:
O meu processo de adoção demorou dez meses. Um dia, me ligaram dizendo que tinham um bebê para mim. Fui ao juizado e, ao vê-lo chorando no colo de uma assistente social, eu gritei "Meu filho" e o arranquei da mulher. Botei no meu colo, e ele parou de chorar. Uma semana antes, tinham me pedido para responder a um questionário. Eu não fazia muitas escolhas. Como toda mulher, queria uma menina e brincava, dizendo "Afinal de contas, quem vai herdar as minhas bolsas Chanel? Vou dar para nora?". Mas, seriamente, eu só queria que viesse com saúde. E, de preferência, pretinho.
Você carrega várias medalhas de Nossa Senhora no pescoço. Sua fé está mais forte agora?
ASTRID:
Este é o meu exército de Nossa Senhora. Eu sou católica. Em Salvador, vou à missa toda sexta-feira no Bonfim e frequento o terreiro de candomblé. Não sou praticante desta religião, mas gosto do ambiente. Sempre fui muito religiosa. Agora, estou fervorosa. A fé nos dá concentração.

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